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quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Morte Anunciada: a tragédia do Velho Chico

A nascente do Velho Chico secou completamente, e sua vegetação desapareceu
Há mais de 10 anos fala-se sobre a morte do rio São Francisco. O bispo de Barra, na Bahia, Dom Frei Luiz Cappio, chegou a percorrer toda extensão do Velho Chico, alertando a população e as autoridades a respeito dos fatores que vinham destruindo, lentamente, as condições de sobrevivência do nosso grande "rio da integração nacional". Em duas ocasiões, Frei Cappio fez greve de fome contra a Transposição do rio, pretendida pelo Lula, ressuscitando um antigo projeto, ainda do tempo do Império, para levar as águas do Velho Chico para a Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, com promessas infundadas de que isso resolveria a seca do semiárido nordestino. 

Triste visão do rio São Francisco em Pirapora, Minas Gerais
Em 2004, Frei Cappio permaneceu em greve em uma capela próxima a Cabrobó, em Pernambuco, até que Lula prometesse rever o projeto e ouvir outras opiniões mais abalizadas de especialistas em Hidrologia, como Aldo da Cunha Rebouças, Aziz Ab'Saber e Milton Almeida dos Santos. A promessa foi quebrada e, com o início das obras em 2006, Frei Luiz Cappio entrou em nova greve de fome, desta vez na cidade de Sobradinho, na Bahia, às margens da represa, ficando 22 dias sem comer, e saindo de lá para um hospital, por determinação de seus amigos e seguidores.

Em 2009 percorri toda extensão do rio São Francisco, 2.700 km, remando sozinho desde sua nascente, na Serra da Canastra, em Minas Gerais, até a sua foz, em Piaçabuçu, Alagoas, conhecendo a realidade do rio através de suas cidades e comunidades ribeirinhas. Passei 99 dias dentro das águas do Velho Chico, fiz palestras em todos os lugarejos e comunidades que visitei, alertando a população para os gravíssimos problemas que destruíam esse grande rio, como a poluição por agrotóxicos, resíduos industriais e esgotos domésticos sem tratamento, o desmatamento de suas margens e a destruição das nascentes de seus tributários, seja pelo desmatamento, ou pelo pisoteamento do gado, entre tantas outras causas de degradação.

Imagem da seca do rio São Francisco em Xique-Xique, na Bahia
Assim como Frei Luiz Cappio, minha voz também não foi ouvida. Nem sequer consegui publicar meu livro, que se encontra em meu site: "Expedição Velho Chico", que já teve quase 100.000 visitantes, mas nenhum editor. Vejo, às vezes, pessoas que passaram por algumas cidades do Velho Chico, e falam como se fossem especialistas em seu conhecimento, ganhando notoriedade gratuita nos meios de comunicação, e fico triste por não ter sido valorizado e reconhecido pela mídia, nem ter conseguido divulgar meu depoimento.

Agora, depois de tantas manifestações, o Velho Chico está, de fato, morrendo. Pela primeira vez em sua história, o rio São Francisco secou em sua nascente, e mostra sua terrível desolação em quase toda extensão de 2.700 quilômetros, a maior bacia hidrográfica brasileira, situada por inteiro em território nacional. É o rio mais importante do semiárido nordestino, única fonte de água doce perene em toda sua região de 640.000 quilômetros quadrados, do tamanho do estado da Bahia ou de Minas Gerais, maior do que a maioria dos países da Europa.

A maior seca da história do nordeste, prova definitiva das mudanças climáticas
Porém, não é apenas o rio São Francisco que está morrendo! Metade da Caatinga e do Cerrado brasileiros já foram transformados em latifúndios do agronegócio. Nesses dois biomas se encontra grande parte da flora medicinal do Brasil, que poderia ser uma importante fonte de recursos para o país, seja na possibilidade de geração de "royalties" para a indústria farmacêutica, seja pela utilização de medicamentos naturais, frutos da cultura popular regional.

A devastação de nossos biomas mais importantes está se acelerando, apesar das mentiras pregadas pelos políticos, que afirmam que o desmatamento estaria controlado. A Mata Atlântica já perdeu mais de 90% de toda sua riqueza natural, e a Amazônia, maior floresta tropical do mundo, segue no mesmo caminho, tendo perdido cerca de 25% de sua riquíssima flora e de sua fauna. E essa perda ocorre por várias causas: desmatamento para se transformar em pasto para o gado e em gigantescas plantações de soja, construção de hidrelétricas e estradas em plena selva, e assentamentos do INCRA.

A morte anunciada do rio São Francisco demonstra o descaso e o crime ambiental praticado pelo agronegócio e pelo governo federal, em sua infinita ambição de enriquecimento às custas de nossos incomparáveis recursos naturais. Essa tragédia anunciada será seguida de sucessivas novas tragédias nacionais, afetando o clima e as condições de sobrevivência de toda população brasileira, tanto pelo aquecimento dramático de nosso clima, como pela perda irreversível de nossos recursos hídricos, que ainda representam cerca de 12% de todas as fontes de água potável do mundo! É o maior crime ambiental, praticado por um único país, contra sua própria população. Uma estupidez!

Enquanto isso, o povo, iludido, ainda vota em massa em seus piores candidatos, perpetuando uma política colonialista que nos relegou um destino trágico e estúpido: de sermos os provedores de matérias primas e de produtos primários para um mundo em transformação e em processos de industrialização. Fornecemos carne de boi, soja, cana de açúcar, ferro, alumínio, em troca de produtos de alta tecnologia, como equipamentos eletrônicos.

Estamos chegando, rapidamente, no limite de resiliência (capacidade de recuperação) de nosso Meio Ambiente. Passado esse limite, o Brasil, gradualmente, se transformará em uma gigantesca savana seca e estéril. Regiões desérticas substituirão as florestas e as nossas gigantescas bacias hidrográficas. E até mesmo os ignorantes donos do agronegócio verão seus latifúndios se transformarem em terra seca e inútil para a lavoura.

Será esse o nosso destino final?

quinta-feira, 14 de junho de 2012

O destino do planeta na Rio + 20


O que nos parece óbvio pode ser incompreensível para a maioria dos brasileiros, que não estão comprometidos com as questões ambientais: o planeta está em crise e o tempo para tomada de decisões poderá estar se esgotando. No entanto, os líderes mundiais também não se importam com o futuro, nem se sentem ameaçados por essa enorme transformação em curso, e o resultado final desse encontro que acontece no Rio de Janeiro poderá ser irrelevante para os destinos do planeta.

Muito se discute sobre os temas a serem abordados no documento final da Conferência; criou-se até um modelo de discussões baseado em três pilares: Economia, Sociedade e Meio Ambiente. Mas a questão fundamental não é acadêmica e muito menos se enquadra nos padrões de palestras empresariais, arenas em que as aparências têm mais importância do que os resultados almejados. Por isso, as conclusões da Rio + 20 poderão ser frustrantes! Já não se debate, como acontecia há 20 anos, se existe ou não um "aquecimento global" e se esse fenômeno está ou não relacionado com as ações humanas e com o modelo de produção e de consumo da sociedade contemporânea. Essa conclusão é óbvia e fundamentada em estudos, pesquisas e dados consistentes e irrefutáveis, ainda que as ações humanas não sejam as únicas a mudar o curso da História, ameaçando a vida na Terra.

Nas últimas quatro décadas, desde que surgiu a discussão sobre sustentabilidade e se iniciou a busca por novos modelos de produção, de consumo, e de reutilização de produtos descartados, as transformações sociais, políticas e econômicas foram profundas e impactantes para o Meio Ambiente. Em 1.972 a maioria dos países subdesenvolvidos estava imersa em violentas ditaduras militares e as grandes potências travavam disputas ideológicas entre o Capitalismo e o Comunismo. Desde então, essas ditaduras deixaram de causar vítimas inocentes, o Comunismo foi derrotado e o Capitalismo se tornou mais selvagem do que nunca, alimentando o excesso de consumo e o desperdício desenfreado.

Na sequência, crises sucessivas da Economia mundial evidenciaram a falência do modelo capitalista globalizado, e expuseram a falácia das antigas e desgastadas teses do Welfare State e do American Way of Life. A Europa imergiu na pior crise de sua história de pós-guerra, e os Estados Unidos conheceram a fragilidade de sua Economia, deixando metade da população mundial exposta à falência do modelo baseado no Império do Dollar como moeda internacional. Paralelamente às crises, a China cresceu e superou quase todas as economias mundiais, inclusive europeias e asiáticas, tornando-se a segunda potência econômica, somente atrás dos norte-americanos.

Tudo isso teve um custo insustentável para o Meio Ambiente: a exploração dos recursos naturais superou a capacidade da Natureza de repor seus estoques, até então considerados inesgotáveis e seguros. O Brasil, mais uma vez, escolheu o caminho errado e investiu pesado na exploração e comercialização de Commodities e de Matérias Primas (grãos e minérios). Essa escolha evidenciou-se trágica: em cerca de 40 anos os governos militares e os governos liberais que se seguiram destruíram metade do bioma Cerrado e 25% da Amazônia. Estados como o Mato Grosso, Rondônia e o Pará causaram mais de 50% de devastação na Floresta Amazônica, e a Mata Atlântica foi vítima da pior exploração imobiliária de sua história, fragmentando ainda mais o que restou da exploração colonialista da cana de açúcar, do algodão e do café, do início do século XVI ao final do século XIX.

Nossos recursos hídricos foram os mais desgastados por essa febre desenvolvimentista, seja pela construção de gigantescas hidrelétricas, como Itaipu, Sobradinho, Santo Antônio, Jirau, Belo Monte, Tucuruí, Ilha Solteira e Xingó, seja pela poluição dos cursos dágua por esgotos urbanos, contaminação por agrotóxicos e resíduos industriais e exploração descontrolada dos aquíferos subterrâneos, comprometendo definitivamente quase todas as bacias hidrográficas do país.

Os processos industriais não se preocuparam em otimizar recursos, mas em incentivar o desperdício, criando produtos descartáveis e bens pouco duráveis. Se, no passado, a indústria automobilística e eletro-eletrônica produziam bens para durar uma vida inteira, nos dias de hoje a vida útil desses bens não passa de cinco anos, quando muito. Quanto menos durar um produto, mais se consome: esse é o princípio que norteia a Nova Economia; e a sucata decorrente é descartada no Meio Ambiente, sem nenhuma preocupação com a reciclagem.

Pois é nesse contexto que se insere a discussão sobre o destino de nosso planeta. No entanto, grandes líderes mundiais estarão ausentes, como o presidente norte-americano, que não quer se indispor, em um ano eleitoral, com seus financiadores de campanha, e repete o comportamento irresponsável de seus antecessores. Essa ausência é emblemática, considerando-se que esse país é responsável por 25% da liberação de carbono na atmosfera, que causa o efeito estufa e o aquecimento global. No Brasil também, a posição do governo Dilma é dúbia, irresponsável e contraditória: de um lado, afirma, retoricamente, seu compromisso com o Meio Ambiente; de outro, afaga os criminosos ambientais, como mineradoras, pecuaristas e latifundiários da soja, dispensando-os, inclusive, das multas e da recomposição das áreas degradadas. Ninguém, em sã consciência, se arriscaria a afirmar que Dilma honrará seus compromissos com a preservação ambiental.

No Congresso, outra farsa se desenrola na CPI de Cachoeira (que nada tem a ver com a Natureza), para despistar os ambientalistas e deixar passar a comoção da Rio + 20, para depois trazer à tona a questão do Código Florestal (ou melhor, do Código Ruralista do Desflorestamento e da Impunidade dos Crimes Ambientais). As perdas para o Meio Ambiente, ainda que a proposta de Dilma fosse aprovada na íntegra, já representariam o pior retrocesso da legislação ambiental de nosso país, com perdas irreparáveis de áreas de preservação permanente degradadas, reservas legais devastadas e não recuperadas, invasões e "legalização"de terras públicas ocupadas pelos ruralistas, e ameaças e invasões de terras indígenas, inclusive as já demarcadas.

As piores previsões de cientistas alertam para o risco de um aumento de mais de 8º C na temperatura média da Amazônia antes do final do século, o que, de per si, já significaria o fim da Floresta e a maior desertificação do planeta em tempos modernos. O impacto desse desastre ecológico repercutirá em todo o território nacional, causando quebras definitivas na capacidade produtiva da agricultura e da pecuária nacional, e o consequente desastre econômico para um país que tem, na produção rural e na exploração de minérios, a base de sua Economia. Esse modelo é tão estúpido e insustentável quanto a exploração de petróleo. No entanto, apostamos no Pré-Sal  nossas expectativas de redenção...

É claro que o debate que se desenvolve na Rio + 20 tem um valor inestimável para a transformação do pensamento político brasileiro e mundial, e suas consequências irão, certamente, muito além desses poucos dias de discussões no âmago da Conferência. No entanto, é importante destacar que talvez não haja tempo hábil para uma mudança de consciência e de comportamento político e econômico para evitar a catástrofe que se anuncia. Quanto tempo nos resta para evitar as tragédias? Qual será o ponto de inflexão dessa curva, aquele em que, mesmo que se mudem as decisões, o resultado já terá sido irreversível para nosso país e para a Humanidade? Talvez a resposta para essas indagações seja a própria tragédia que se anuncia para o gênero humano...

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Os equívocos do Ambientalismo

Estão estranhando o título? Não se preocupem: não mudei de lado! Mas quero esclarecer algumas mentiras que a mídia vem propalando e que podem desacreditar os verdadeiros defensores do Meio Ambiente e da Natureza.

Em primeiro lugar, é preciso entender que as realidades são diferentes em cada região desse nosso maltratado planeta, e que, portanto, as estratégias que aqui funcionam, não têm o menor sentido em outro lugar. Cada ecossistema tem seus próprios mecanismos de sobrevivência, e mesmo em áreas de intensa presença humana, as preocupações com o Meio Ambiente devem levar em consideração seu espaço e seu entorno, e como essas relações podem afetar a Natureza.

Vamos começar com algumas regras "Básicas"!


1. Devemos economizar água; devemos evitar o desperdício; devemos fechar a torneira enquanto nos ensaboamos, ou fazemos a barba, ou escovamos os dentes. Certo?

Parece óbvio, mas não é... quando morei na Amazônia, a presença humana é insignificante em algumas regiões; a disponibilidade de água é absurda! Chove torrencialmente durante dez meses do ano! A água que usamos vem dos rios, sem qualquer tratamento! Economizar água nessa região é uma tolice desnecessária e inútil, até porque toda água utilizada ou consumida retorna naturalmente para o ambiente. No entanto, explorar o garimpo em terras indígenas, pelos próprios indígenas, é um crime contra a Natureza, que será contaminada pelo mercúrio e se propagará pelos igarapés, riachos, rios, afetando toda a Natureza em seu caminho. O garimpo ainda revolve o solo e o subsolo, causando voçorocas que levam dezenas de anos para se recuperar, isso se a atividade de garimpo for interrompida. No entanto, em ambientes urbanos de grande densidade populacional, e que dependem de gigantescos reservatórios em seu entorno, a economia de água, bem como seu tratamento para devolvê-la à Natureza caracterizam ações e comportamentos essenciais.

2. O uso de sacos plásticos pelos supermercados é um atentado contra a Natureza e deve ser sumariamente proibido! Verdade?
Mais uma vez, parece uma excelente medida, que foi "comprada" por quase todos os ambientalistas como a salvação do planeta! Outra tolice sem tamanho! Quem usa os saquinhos plásticos costuma reciclá-los para se desfazer do lixo doméstico. Se não houver o saco plástico, todos terão que comprar sacos de lixo, muito mais nocivos ao Meio Ambiente, por serem mais grossos, mais resistentes e menos degradáveis. Portanto, essa medida tem endereço certo: favorecer a indústria de sacos plásticos! Melhor seria obrigar a indústria plástica a produzir materiais biodegradáveis, definindo um prazo razoável para sua adequação. Ações dessa natureza são de difícil implementação, seja pela falta de consciência da população, seja pela falta de alternativas oferecidas pelas indústrias. No entanto, considerando-se a destinação do lixo humano, sabemos que muita coisa precisa ser feita para refrear o consumismo, este a verdadeira causa dos males à Natureza.

3. Brinquedos pedagógicos são excelentes para a conscientização de nossas crianças, ensinando-as a respeitar a Natureza. É isso mesmo?
Mais uma vez, uma enorme mentira, pois a maioria dos brinquedos "pedagógicos" são fabricados com madeira, cuja procedência, na maioria das vezes, é desconhecida. Enquanto isso, os brinquedos "não-pedagógicos" causam maior estrago ainda porque replicam modelos da sociedade de consumo, valorizando personagens da Disney, estimulando o desperdício e a "doutrina" da competição sem escrúpulos e sem limites! Os brinquedos "pedagógicos" são pálidas iniciativas (de "brinquedo") diante da poderosa e influente indústria do consumo capitalista que "educa" nossas crianças para a substituição (entenda-se "destruição") contínua de artefatos de lazer. Melhor seria estimular as brincadeiras infantis que existiam no passado, a construção de brinquedos através de sucatas ou de reciclagem de materiais plásticos, do estímulo à criatividade que, a cada dia, se torna mais desnecessária em nossa sociedade contemporânea. É mais fácil sucatear um brinquedo com o lançamento de novas e poderosas versões de "softwares infantis" do que estimular a inteligência. Infelizmente, brinquedos pedagógicos não conseguem competir com jogos eletrônicos...

4. Ecoturismo é uma atividade que educa para a Natureza! CERTO?
Errado! A "indústria do ecoturismo" está promovendo a maior invasão descontrolada de nossos ambientes naturais, despreparados ("desequipados") para a prática de esportes de aventura, causando danos irreparáveis aos ecossistemas, submetidos a pressões sociais extremas, danificando e expandindo desordenadamente as trilhas, desalojando animais silvestres e tornando os Parques Nacionais verdadeiros "acampamentos de festa" em finais de semana. Muitos ecossistemas são extremamente frágeis para suportar centenas, milhares de turistas mal-informados e sem orientação ambiental, deixando seus rastros de dejetos de toda sorte (alimentos, embalagens, fezes), e levando suas "lembranças" dos locais visitados, para expor em suas prateleiras de recordações e exibir como troféus aos amigos. Turismo ecológico é uma expressão tão falaciosa quanto o uso e abuso da expressão "desenvolvimento sustentável"! Não existe sustentabilidade na presença humana neste planeta, sem antes se pensar em "crescimento zero" da população e interrupção da expansão contínua que se verifica nas fronteiras agrícolas. Ecoturismo é muito bom, mas com consciência e responsabilidade. No entanto, assim como em todas as atividades humanas, a invasão de ambientes naturais sem controle e as práticas de atividades de forte impacto, como festas "rave", corridas de aventura e rallies com motos, caminhões, jeeps... são agressões insuportáveis ao meio ambiente.

5. Empresas de "revitalização de áreas degradadas" prestam um significativo serviço ao Meio Ambiente através do replantio de árvores, da reprodução e reintrodução de espécies para repovoar os cursos dágua, e do estímulo à conscientização ecológica da população local. Verdade?
Mentira! A maioria dos projetos de revitalização de áreas degradadas está associada a empresas que não entendem nada do Meio Ambiente. Produzem mudas de árvores exógenas (estranhas àquele ecossistema como pinheiros e eucalipto), produzem alevinos que não são nativos (como a tilápia do nilo) e repovoam lagoas de reprodução, causando a extinção de espécies tradicionais e dizimando  a flora original, causando desequilíbrios irreversíveis à Natureza. Exemplo disso são as "florestas com exploração sustentável" concebidas e promovidas pela EMBRAPA, que consorcia a plantação de pinus ou eucalipto com plantações de soja e brachiaria e com a criação de gado! Querem algo mais "ecológico"? (vejam "Integração Lavoura-Pecuária-Floresta")

6. Deveríamos ter uma "Política Nacional de Proteção ao Meio Ambiente" que adotasse políticas padronizadas para todos os ecossistemas nacionais.
Pois é... tratar o Cerrado, a Caatinga, a Mata Atlântica, a Amazônia, as Florestas Homogêneas, as Cavernas e os Recursos Hídricos de maneira uniformizada seria a destruição total de nossos ecossistemas. É necessário criar políticas que tratem cada bioma, cada ecossistema como um indivíduo com identidade própria, com necessidades específicas, com riscos diferenciados, e como recursos finitos e não-renováveis! Cada região, cada ambiente possui suas peculiaridades que inviabilizam políticas uniformes. É preciso conhecer profundamente cada ecossistema, cada bioma, cada microclima, cada microbacia hidrográfica, cada aglomerado humano e suas relações com o entorno ambiental para poder definir políticas específicas voltadas para a realidade e os problemas locais. No entanto, não podemos perder de vista as interações que ocorrem nos diferentes ecossistemas; isso nos assegura que a destruição de uma área de preservação terá consequências imprevisíveis para os demais e para todo o planeta. Isso pode ser evidenciado nas mudanças climáticas que já se acentuam, causadas pelo desaparecimento de imensas áreas de floresta, transformadas em pasto para criação de gado, ou em lavouras extensivas de soja, algodão, milho e outras monoculturas, que esgotam as reservas hídricas do subsolo e promovem a desertificação progressiva das áreas abandonadas pelos fazendeiros. No Brasil, cerca de 50% do Cerrado, um dos mais ricos ecossistemas em biodiversidade, já foi exterminado pelos latifúndios; parte expressiva da Floresta Amazônica também desapareceu no Pará, no Mato Grosso e em Rondônia, pela ação criminosa de fazendeiros, com a anuência conivente do governo federal e do Congresso Nacional.

7. Grandes Corporações têm produzido importantes planos para o Meio Ambiente. Vejam o exemplo da Vale do Rio Doce, empresa modelo de preservação ambiental!
A Vale do Rio Doce foi eleita a Pior Empresa do Mundo em 2011 pelos desastres ecológicos que já causou ao longo de sua vida empresarial. A Petrobrás tem sido a maior vilã de nossos mares pelos vazamentos de óleo e contaminação dos oceanos e das praias, causando enormes mortandade de espécies marinhas. A Votorantim já causou enormes desastres ecológicos nas regiões em que atua, seja pela contaminação com dejetos industriais altamente tóxicos, seja pelo uso abusivo de energia elétrica, induzindo à construção de hidrelétricas que, ao contrário do que diz o governo, não são "fontes limpas e renováveis de energia". Uma hidrelétrica muda completamente o ecossistema de um rio, bloqueando seu curso, paralisando suas correntes, mudando o pH de suas águas, interrompendo o ciclo da piracema e alagando extensas áreas de preservação ambiental ("proteção permanente").

Como percebemos, muitas ideias "ambientalistas" são completamente equivocadas, ou deliberadamente mentirosas com o propósito de enganar a população. Por isso, devemos sempre duvidar e questionar as iniciativas de governos e de grandes corporações, pois sempre existe um propósito oculto por detrás das "melhores práticas" dessas instituições!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

CPT BAHIA OUVE O GRITO DO CERRADO

Carta Do Conselho Regional Da CPT Bahia em Correntina - BA


A CPT Bahia partilha o que viu e sentiu durante o Conselho Regional, em Correntina, no Cerrado baiano, hóspede da equipe da CPT Centro-Oeste e da igreja local (diocese de Bom Jesus da Lapa). Junto com os camponeses e camponesas e representantes dos movimentos e entidades sociais, éramos 42 pessoas, entre encantadas e preocupadas com aquele lugar.

No Cerrado de Correntina, nos deparamos com uma realidade conflitiva e chocante. Um poder, cego e tenebroso, vem há decênios corporificando-se no Oeste Baiano. Atrás da propaganda de “desenvolvimento” trazido pelo agronegócio de exportação, está sendo demolido um bioma – o mais antigo e fundamental – e se oculta um crime que se perpetua: a usurpação das terras públicas, a grilagem, o desmatamento, a morte dos rios e das nascentes, a degradação dos solos, a contaminação por agrotóxicos, a superexploração do trabalho e o trabalho escravo, o desmantelamento das comunidades tradicionais, a desagregação social – a extinção da vida.

Estas realidades, sem nenhum exagero, apresentam o triste espetáculo de uma chaga exposta, sangrando. Ela é mais preocupante e dolorida pela consciência de que o Cerrado brasileiro, e o Oeste baiano nele, concentram em si o “santuário sagrado das águas”. Daqui – uma grande caixa d’água natural – a água se derrama em vida, por inúmeros veios “correntes”, na direção do nascer do sol, para o rio São Francisco e o Oceano. Com a destruição do Cerrado todos eles estão ameaçados de morte, alguns já foram extintos.

Com uma programação intensa, os participantes do Conselho, na manhã do dia 29 de novembro, pudemos ver com os nossos olhos e nos indignar com as seguintes situações:

• Em 1945, terceiros adquiriram, não se sabe como, 40 hectares de terra, na localidade de Itamarana, em Correntina. Por força de uma retificação de área, homologada por um juiz de Santa Maria da Vitória, em 1987, esses 40 se transformaram em 217 mil hectares. Além de mudar o local do imóvel em mais de 150 km, três erros elementares foram acintosamente cometidos: não foram ouvidos, como manda a lei, o Ministério Público e os limitantes, nem o órgão de terras do Estado foi consultado. Um caso clássico e escancarado da velha grilagem de terras públicas. Para piorar, foi cercada a comunidade geraizeira do Couro de Porco, formada por posseiros que ali habitam desde tempos imemoriais. O “empresário” é o Sr. Nelson Tricanato, que nesta área implantou 11 mil hectares de mandioca para etanol. Entretanto, diz ele publicamente “que não se importa muito com as batatas”.

• Durante a visita, pudemos com facilidade associar o agronegócio à lavagem de dinheiro público, algo que foi amplamente divulgado durante o escândalo do “mensalão”. Três dias depois da visita, o Sr. Marcos Valério foi preso em BH, em razão de crimes de “agrobanditismo” praticados na região.

• Numa relação de causa e efeito, à instalação do agronegócio segue uma mortandade, em série, de nascentes, riachos e rios. Vimos com os nossos olhos: o braço de rio, afluente do rio Correntina, na área da REBRAS (Reflorestadora Brasil SA), totalmente exterminado.

• Para dar suporte à expansão do agronegócio, primeiro se constrói um posto de gasolina, em torno dele empresas vão se acomodando, depois se pleiteia a criação de um município ali. Primeiro foi o posto Mimoso do Oeste, que virou o município de Luiz Eduardo Magalhães, hoje com 60 mil habitantes. Na mesma direção projetam-se novas cidades no Oeste baiano: Alto Paraíso, Novo Paraná, Placas, Panambi, Nova Roda Velha, Posto Rosário, Vereda do Oeste, Cidade Trevoso... Para concluir, o agronegócio pretende transformar o Oeste baiano em “Estado do São Francisco”.

• O Estado joga neste processo papel decisivo: atrai, financia, cria infra-estrutura (rodovia, ferrovia, porto, energia etc.), facilita a grilagem e flexibiliza a legislação ambiental.

• Tudo isto, porém, não resulta em benefício para o povo do lugar. Pesquisa da Universidade Estadual da Bahia – UNEB constatou um “falso eldorado” na Região Oeste: a riqueza cresceu 245,6%, entre 1991 e 2000, mas 71,78% dos 800 mil habitantes têm renda inferior a meio salário mínimo (jornal A Tarde, 29/07/04). O município de São Desidério tem a maior renda agrícola do País e uma das piores distribuições de renda. A riqueza produzida na região não fica nela, vai para fora, de onde vem a quase totalidade dos empresários.

• O povo do Oeste baiano, porém, não se conforma. Têm comunidades geraizeiras tendo que brigar por seus territórios da Serra Geral do Tocantins ao Grande Sertão Veredas (MG), da Muriçoca em Barreiras aos Brejos da Barra, da sede da Empresa REBRAS às Cachoeiras do Formoso, do Salto ao Jacurutu... O caso da comunidade do Salto é dos mais absurdos. Como não questionar a ocupação de sem-terras liderados pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado da Bahia – FETAG-BA no território desta comunidade tradicional, existente há pelo menos 200 anos? Em meio a tantos latifúndios e terras griladas, justo esta comunidade foi visada?

À luz do Espírito de Javé que, como nos contam as primeiras palavras da Bíblia, “pairava sobre as águas” (Genesis 1,2), afirmamos que sobre o que vimos em Correntina não podemos nos calar e pactuar. Como Pastoral da Terra, não nos é permitido perder a lucidez evangélica. O “êxodo” – saída e travessia – para qual convidamos movimentos sociais, comunidades, igrejas, é conhecer, não aceitar e resistir a esta realidade fechada em morte, sem minimizar desafios e complexidades nela inerentes.

Neste final de 2011, luzes clarearam perspectivas do serviço pastoral da CPT na Bahia. Em Correntina, como na memória dos 35 anos da CPT celebrados em Juazeiro, dez dias antes, os camponeses e camponesas e as realidades que ecoavam por eles, nos disseram que o serviço da Pastoral da Terra continua irrenunciável e urgente. E este serviço, hoje, deve cuidar cotidianamente para desconstruir o “canto das sereias” do capitalismo que seduz, coopta, desvirtua e corrompe. Nossa crônica fragilidade de recursos financeiros não deve nos preocupar mais do que a tentação de largar a coerência evangélica. Num diálogo humilde e firme, devemos buscar apoio para uma “Co-Missão Pastoral da Terra” que se sinta organicamente enviada com interesse e apoio pelas igrejas, servindo aos pobres da terra e a seus movimentos e lutas por acesso a terra e posse de seus territórios. Assim beneficiando também a toda a sociedade com a produção de alimentos saudáveis e a defesa dos bens comuns da terra.

A celebração dos 35 anos da CPT em Juazeiro e este Conselho Regional em Correntina marcam a conclusão de um ano e se transformam em pedras angulares para o futuro da CPT Bahia. Nisto nos sentimos unidos a tantos quantos nos outros biomas nacionais se mantêm na defesa dos povos dos campos, matas e rios que ainda restam e precisam viver.

Das comunidades de Areia Grande, em Casa Nova, e Salto, em Correntina, sentimos que os pobres nos encorajam com sua silenciosa resistência e iniciativas, a permanecermos com eles, na firmeza de quem existe, persiste e insiste fazendo pulsar tradição, cultura, religião, autonomia, solidariedade e ecologia, a despeito de sofrimentos, a partir da história e das etnias, com seus mártires.

Nesta travessia, ressoam com sentido de força sagrada, direção, compromisso e esperança, as palavras que o povo proclama no Natal: “Já raiou a barra do dia, por detrás da escuridão! Mais que o sol brilha Jesus Cristo, dentro no nosso coração!” (Canto dos romeiros e romeiras no Natal).

Conselho Regional da CPT BahiaCorrentina - BA, dezembro de 2011.

domingo, 19 de junho de 2011

Entrevista para a Revista "CONTERRÂNEOS"

De onde partiu seu interesse de trabalhar como militante do meio ambiente e quando você iniciou os trabalhos?
Meu interesse pelas questões ambientais vem de longa data; meu pai, desde minha infância, me ensinou a respeitar e cuidar do meio ambiente; vivíamos em uma pequena cidade do interior de São Paulo, próximo ao rio Paraná que, naquela época, ainda não sofria os impactos das intervenções humanas. Porém, efetivamente comecei a atuar como ativista ambiental quando passei a me dedicar a esportes da Natureza, há mais de uma década. Primeiro, visitações a Parques Nacionais e Estaduais, com minhas filhas; depois, fizemos treinamentos de mergulho equipado (SCUBA) e hoje sou dive master e instrutor assistente de mergulho, com mais de 100 mergulhos logados na costa sul e sudeste do Brasil; em seguida, fiz treinamentos em montanhismo pelo Clube Alpino Paulista, tendo realizado diversas expedições pelas montanhas da Serra do Mar e da Mantiqueira; isso também me levou à escalada em rocha, sendo qualificado por um dos mais experientes escaladores do país, Eliseu Frechou; finalmente, surgiu a oportunidade de fazer uma expedição de treinamento pela ONG Outward Bound Brasil, na Chapada Diamantina, que me capacitou a realizar expedições autônomas. Hoje sou indigenista, moro na Amazônia, e me dedico à proteção das populações indígenas do Rio Negro, onde vivem cerca de 40.000 índios.

Como nasceu seu fascínio pelo rio São Francisco e de onde surgiu a ideia de viajar pelo rio?
O rio São Francisco sempre povoou os sonhos de meu imaginário, seja pelas suas lendas, seja pelas canções nordestinas que enaltecem suas belezas, seja pelos documentários que assisti a respeito de seus povos ribeirinhos e sua cultura regional. No final de 2008 decidi realizar uma expedição solo, autônoma e independente e escolhi a canoagem e o Rio São Francisco. Queria conhecer de perto essas histórias e descobrir, por minha conta, as belezas naturais e o encanto dessas águas que abrigam uma população de mais de 15 milhões de seres humanos, das mais diversas origens e etnias. Só no rio encontraria as respostas.

Porque a preferência por fazer a aventura de forma solitária em uma canoa a remo?
A canoagem a remo é um esporte que nasceu em minha juventude, por estímulo de meu pai, que era remador em sua juventude, e me levou a remar pequenos barcos (“catraias”) no rio Pardo, SP, onde conversávamos horas a fio a respeito de nossas vidas. Lá aprendi com ele as noções de ética, dignidade, respeito e humildade. Percebi, então, que a canoagem, além de ser um excelente esporte, também nos levava à reflexão. Sempre fui muito solitário, desde minha infância, e credito a isso minha paixão pelos livros e minha busca pelo autoconhecimento. Daí, a decisão pela canoa a remo foi uma consequência imediata.

O que você esperava conquistar com a aventura?
Na verdade, quando concebi a expedição, pensava na aventura de viajar sozinho durante meses, dependendo apenas de meus recursos e de minhas decisões, para percorrer os 2700 km desse rio. Queria conhecer, fotografar, conversar com as pessoas, ouvir suas estórias, falar sobre preservação ambiental e defender o Rio São Francisco que estava moribundo. Depois, ao longo do rio, minha percepção foi se modificando e percebi o imenso universo que se escondia nas margens desse rio e de seus afluentes. A primeira etapa foi de muito esforço físico, muitas exigências com relação às adversidades de um rio que desce a montanha através de inúmeras corredeiras, agravadas pelo frio do inverno. Em Três Marias decidi parar, reavaliar meus objetivos e buscar patrocínios, que meus recursos rapidamente se acabavam. Fiquei três meses tentando, sem êxito, obter apoio. Decidi, então, voltar ao Rio e completar minha viagem. Percebi que as motivações eram muito maiores e as questões muito mais complexas do que simplesmente vencer os desafios da Natureza e registrar essas realidades. Precisava me confundir com elas, vivê-las integralmente, oferecendo-me aos ribeirinhos para compreender seus dramas e tentar, de alguma forma, ajudá-los a superar suas imensas dificuldades. O restante da viagem foi uma verdadeira aventura de lutas contra a opressão que sofrem os quilombolas e indígenas, sem deixar de observar o lado belo e onírico desse rio fantástico e completamente brasileiro.

Porque você decidiu registrá-la em um blog?
Por que precisava me comunicar com as pessoas e percebi que o blog era o meio mais eficiente e cronológico de fazê-lo. Desde os primeiros momentos de planejamento da expedição registrei minhas impressões no blog. Meu compromisso era de não seguir uma linha editorial, mas deixar que os pensamentos, as reflexões e as manifestações de meu ser fossem registradas sem censura, apenas comprometidas com a realidade que passou a ser minha vida, durante um ano. O blog foi fundamental para o sucesso da expedição.

Como foi a receptividade do blog?
O blog foi um sucesso absoluto! Já tive mais de 30.000 visitantes. Mesmo hoje, tendo deixado de escrever, ainda tenho centenas de visitas por mês. Em 2009 ganhei o primeiro prêmio Top Blog na categoria SUSTENTABILIDADE pelo Juri Popular. Recebi centenas de manifestações escritas, seja por e-mail, seja em comentários nas publicações que fazia.

Quais foram as principais impressões que você extraiu dessa jornada e as cidades que mais chamaram sua atenção?
As impressões são muitas, desde a perplexidade diante da devastação da Natureza ao longo de seu curso, o descaso das autoridades, a paixão pelos ribeirinhos, minha identificação com a causa dos quilombolas, indígenas e assentados, o êxtase pela beleza incomparável das cenas que o rio proporciona em toda sua extensão, a tristeza de não poder fazer mais por ele. Conheci pessoas fantásticas, que me mostraram que o rio ainda é desconhecido dos brasileiros; percebi de perto sua arte única, passei por situações extremas e fui feliz. As cidades que mais marcaram minha expedição foram Iguatama, minha primeira parada, Três Marias, ponto de inflexão na jornada, Pirapora, São Romão, Itacarambi, Malhada, Bom Jesus da Lapa, Paratinga, Barra, Xique-Xique, Petrolina, Santa Maria da Boa Vista, Cabrobó, Paulo Afonso, Piranhas e Piaçabuçu, todas com muito envolvimento meu.

Você manteve contato com os moradores das regiões visitadas? Você acredita que eles já possuem uma conscientização política sobre a importância da preservação do meio ambiente?
Sim, mantive contatos com o povo e, a partir de Três Marias eu passei a entrar em mais cidades, falar com as pessoas, visitar quilombos, acampamentos de sem-terra, assentamentos, discuti com os movimentos populares e abracei suas causas, conheci lideranças e vivi seus dramas. No entanto, não creio que as populações do Rio São Francisco tenham plena consciência da situação do Meio Ambiente, pois cada região sabe de si mesma, não conhece o que está antes de si e não sabe do que vem depois; não tem a percepção de que até pequenas ações predadoras podem levar à extinção da fauna, da flora e do próprio sistema hídrico. Muitos pequenos afluentes já desapareceram e mesmo os grandes rios perdem água ano após ano. As administrações públicas pouco fazem para conscientizar suas populações de seu compromisso com o meio ambiente, o esgoto é jogado displicentemente no rio e em seus afluentes, as matas ciliares estão muito destruídas, e em alguns locais já desapareceram completamente, causando a queda de barrancos, o alargamento do rio e seu assoreamento. Já não podemos dizer que seja um rio navegável, pois as represas impedem sua travessia; apenas Sobradinho possui uma eclusa, mas poucos barcos se aventuram a cruzar suas águas. Ninguém se dá conta de que o rio foi fragmentado pelas barragens e isso afetou definitivamente o ciclo da vida em suas águas. Para que o rio sobreviva, seria necessário engajar sua população em campanhas de conscientização; fortes investimentos deveriam resgatar os afluentes e proteger as matas ciliares. Temo pela morte do rio, até porque, a nova versão do Código Florestal já não mais protege as áreas de preservação permanente, como são as margens do rio. O São Francisco chega a ter mais de um quilômetro de largura em seu leito natural e cerca de 3 km na sua foz; dentro de Sobradinho chega a 35 km de largura; no entanto, as matas ciliares, na maior parte de seu percurso, não passam de uns poucos metros, violentando a legislação, impunemente. Eu creio que uma nova geração de pessoas comprometidas com o Meio Ambiente poderia reverter esse quadro de desolação; mas seria preciso investir fortemente na educação ambiental, desde a pré-escola, em todas as escolas do país para, quem sabe um dia, se possa entender a imensidão de nossos paraísos ambientais, seja no rio São Francisco, seja na Amazônia, na Mata Atlântica, nos Cerrados e Caatingas. Infelizmente, ainda existem milhões de brasileiros que acreditam que os Cerrados devam ser destruídos para dar lugar às plantações de soja, cana-de-açúcar, e à criação de gado. Eles se esquecem que todo mundo precisa de ar e de água, e que, sem as riquezas naturais, esses recursos naturais chegarão, inexoravelmente, à extinção, que será, certamente, o desparecimento do próprio Homem na Terra. O Ser Humano é egoísta e mesquinho, e só pensa em seu bem-estar. Nem concebe que seus filhos, seus netos, seus descendentes serão privados de conviver com a imensidão de belezas que se escondem por detrás das matas, das montanhas, sob o mar...

Entrevista publicada no número 32 da Revista "CONTERRÂNEOS" do Banco do Nordeste do Brasil (BNB)

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Minha Canoa está de volta!


Não posso deixar essa data passar em branco: meu amigo CLOSÉ LIMONGI, Jornalista e Mineiro, duas qualidades insuperáveis, conseguiu buscar minha canoa "ULYSSES" em Aracaju e levá-la para Belo Horizonte, onde ficará até que não a queiram mais! Closé, meu caro amigo, muito obrigado!

É um sentimento estranho, que me reconduz ao meu Velho Chico, trazendo-me à memória os longos e inesquecíveis dias que compartilhei em sua companhia única... Velho Chico, uma vida que se desenrolou por 99 dias, 99 tardes, 99 pores-do-sol incríveis, 99 noites de solidão, meditação e sonhos, alguns impossíveis, outros que me motivaram a seguir em frente...

Meu Velho, meu Chico... um dia, quando o tempo me levar dessa vida, minhas cinzas repousarão em seu leito estremecido pelos maus-tratos, pelo descaso de tantos, e pelo amor de alguns abnegados que louvaram suas belezas, suas histórias, suas lendas...

Que minha velha canoa seja bem tratada e desperte em alguns a paixão que me conduziu pelos seus caminhos infinitos... quem sabe, em breve, eu possa revê-la e derramar a lágrima derradeira, aquela que restou das tristezas que presenciei pelos seus caminhos, Velho Chico...

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Arte e Inspiração

Perdi a minha Arte... já disse, um dia, em um poema, que "Arte é Inspiração". Pelo menos, assim penso que seja quando se trata de poesia. A poesia não depende do talento; ela brota de dentro do ser e irrompe avassaladoramente, obrigando o poeta a manifestá-la perante o mundo, ainda que contra a sua vontade! Foi assim comigo; durante dois anos esse fluxo de mensagens fluía naturalmente, sem que eu precisasse sequer retocar o que escrevia com tanta facilidade.

Se minha arte era rica, não importa. Sei que tinha seu valor e expressava meus pensamentos de forma clara, concisa e lírica como eu nunca mais o faria, pois essa erupção poética se extinguiu assim como chegou. Não lamento, pois creio ter dito tudo o que desejava nesses poucos meses em que fui visitado pela Poesia.

Meus textos são duros, difíceis de encontrar adeptos porque eu falo aquilo que todos se recusam a admitir: que o mundo dos homens não é belo, que a brutalidade das relações se esconde sob as máscaras de cada um, enquanto nossos pensamentos refletem nossa verdadeira personalidade, que ocultamos até de nós mesmos.

Escrevi por mais dois anos sobre o rio... não um rio qualquer, mas o Meu Velho Chico, companheiro de viagem, confidente e amigo, que me acolheu por tanto e longo tempo, compreendendo minhas razões e expondo seu sofrimento devido à ação cruel dos homens. O Velho Chico está lá, percorrendo incessantemente os mesmos caminhos, definhando amarguradamente enquanto dilaceram sua artérias, inexoravelmente...

Eu, por meu turno, segui outros caminhos, não para enriquecer-me de belezas, mas para sentir a dor ainda maior de conviver com inimigos, percebê-los tramando contra mim, que continuo passivo, apenas aguardando o fim que se aproxima. Não da vida, que dela nada sei; nem da morte, que essa seria definitiva e expiaria todo sofrimento... mas da existência por si mesma, aquela dádiva não desejada, concedida ao nascer e confiscada em cada instante do viver. Para ela não há salvação possível, apenas esperar.

No entanto, esses caminhos cruéis que tomei para mim não têm compensações, como aquele por-do-sol que está no ocaso de cada novo dia. Apenas mágoas e revoltas inúteis, pois sou eu quem está na trilha errada; todos os demais encontram-se em seu ambiente natural, e nem percebem que ele é escuro, perverso, sem vida, sem cores, sem sonhos...

Cá estou, no âmago do monstro que me devora vivo, arrastando-me pelas estradas que levam ao meu destino final: a expiação de meu pecado original de pensar em um mundo melhor, justo, digno, ético, igualitário e feliz. Não devemos sonhar: é proibido, perigoso e inútil!

sábado, 27 de novembro de 2010

O Fim de um Ciclo

Aqui se encerra mais um ciclo de minha vida. Depois de quase dois anos alimentando este blog com minhas considerações, idéias, pensamentos, termino assim o meu blog. Ele continuará ativo para quem queira ler meus textos e conhecer minha expedição. Agradeço a todos aqueles que me prestigiaram com sua atenção, leituras e comentários e espero ter contribuído para a preservação ambiental, particularmente na defesa do rio São Francisco, cujas lembranças permanecerão em minha memória enquanto eu existir. Um grande abraço a todos...

sábado, 13 de novembro de 2010

Às margens do rio Negro

Chove a cântaros aqui na Amazônia Ocidental. O calor é insuportável nos intervalos das chuvas, e provoca um imenso volume de evaporação que, por sua vez, realimenta o ciclo das águas. Como é fantástica a Natureza! Um ciclo perfeito que assegura a vida em nosso planeta! Apesar disso, as águas do rio Negro continuam a baixar, exibindo as pedras, cada vez mais freqüentes em seu leito, e dificultando a navegação, única forma de transporte entre as áreas urbanas de São Gabriel da Cachoeira e as aldeias indígenas situadas a montante do rio e de seus afluentes.

Estou há dois meses aqui, aprendendo a gostar dessa gente humilde e apreciando as oportunidades que me são concedidas de caminhar nas trilhas da solidariedade. Este mês fiz um curso de piscicultura: quinze dias coletando informações sobre espécies da região, como o Aracu, o Tambaqui, Tucunaré, Pirarucu, Matrinxã e tantos ourtos peixes de grande aceitação e consumo nas mesas dos habitantes locais. Construímos um tanque flutuante com ripas entrelaçadas por cipós, que podem durar mais de um ano e abrigar centenas de peixes.

Também aprendi a extrair as ovas de fêmeas de Tambaqui e Matrinxã e inseminá-las, antes de colocá-las nos berçários, gerando alguns milhões de alevinos que irão repovoar os tanques e os rios. A piscicultura é uma das opções de melhoria da segurança alimentar das famílias indígenas. Ao longo de séculos de ocupação e desagregação de costumes e tradições os indígenas também contribuíram para a redução dos estoques de peixes nos igarapés; sua alimentação tornou-se precária, carente de proteínas, e nossos projetos visam oferecer alternativas simples e de baixo custo para a melhoria das condições de saúde e da qualidade de vida dos índios.

São centenas de comunidades que habitam a bacia do rio Negro. Só de Yanomamis são cerca de 5.000 índios. Estes vivem em semi-isolamento, na região montanhosa do Parque Nacional do Pico da Neblina. Duas dezenas de etnias coabitam o Alto Rio Negro e seus principais afluentes: Uaupés, Tiquié, Içana, Xié... milhões de igarapés abastecem um intrincado complexo de rios que levarão suas águas para a bacia Amazônica, a maior do mundo em extensão e volume de águas. A bacia do rio Negro também é a maior bacia de águas pretas do mundo. Sua coloração é devida aos compostos orgânicos, ricos em tanino.

Nessa região, a floresta alterna espaços com uma vegetação mais pobre, conhecida como Campinaranas, ou Caatinga da Amazônia, terras muito pobres em nutrientes, solo arenoso e extremamente ácido, que reduz o volume de fitoplâncton e zooplâncton de suas águas límpidas e cor de chá preto. Por isso, a capacidade de manutenção da vida nesses rios de águas pretas é baixa; poucas espécies se adaptaram à acidez e falta de alimentos.

Muitas localidades, na fronteira com a Colômbia, demandam 48 horas contínuas dentro de uma voadeira (barco a motor), ou quatro a cinco dias de viagem, atravessando corredeiras e sob um sol causticante de 35ºC, cuja sensação térmica é de mais de 40ºC. As aldeias limítrofes com a Colômbia têm presença permanente do Exército, que não apenas controla e protege as fronteiras, mas também dá auxílio às populações indígenas, oferecendo assistência médica e apoio logístico em casos mais graves que exigem translado do paciente.

Não é raro encontrarmos indígenas com pernas amputadas em decorrência de picadas de cobras, muito comuns nas matas da região. Alguns não sobrevivem e nem mesmo são atendidos a tempo de se ministrar soros anti-ofídicos devido ao isolamento em que se encontram. O Ministério da Saúde mantém equipes de atendimento médico em toda a região, através dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas, mas a região é muito extensa.

Esta é a minha realidade, lugar que escolhi morar para contribuir com meu trabalho para a transição dos indígenas, de seu estado atual de enorme dependência do Estado, para uma situação de auto-suficiência de que já gozaram um dia remoto no passado. A transição é inevitável: a partir do momento em que a "civilização" os tocou, contaminando sua alma, nada mais se pode fazer para reverter essa situação. Por isso, é necessário se preservar o que é possível, resgatando a memória desse povo e registrando-a em compêndios que, um dia, serão suas únicas recordações de seus tempos primitivos.

Atualmente, muitos indígenas são professores nas aldeias, outros se formaram técnicos agrícolas, alguns poucos chegaram aos bancos acadêmicos e hoje são mestres e doutores. Mas a absoluta maioria ainda padece da mais cruel e insensata ignorância, viciados pela religião e pelas drogas. A primeira lhes solapa a vontade, resignados pelas promessas de salvação de suas almas. A segunda lhes rouba a dignidade e os torna vítimas dos piores males da "civilização": a bebida, as drogas, a prostituição, a mendicância... centenas de mortos-vivos arrastando-se pelas ruas das urbanidades dominadas por imigrantes de outras terras e culturas.

Assim são as margens do rio Negro, cujas pedras guardam memórias milenares e cujos seres se perdem nos caminhos inundados, com seus sonhos desfeitos e sua memória perdida.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Propostas equivocadas

Dentre as promessas de campanha, Dilma evidencia a incoerência de suas políticas públicas, muitas das quais antagônicas quanto a seus impactos sobre o Meio Ambiente, o que demonstra seu desconhecimento da matéria, ou apenas a necessidade de conquistar o eleitorado durante os meses que antecederam as eleições presidenciais. Cito abaixo algumas dessas "promessas", publicadas em "O GLOBO" em 01/11/2010.

OUTRAS FONTES DE ENERGIA


142. Fazer uma política com ênfase na produção de energia renovável e na pesquisa de novas fontes limpas. Construir parques eólicos.

Seria muito bom se esse fosse, realmente, um compromisso de Presidente da República. Afinal, há muitos anos se discute o uso de recursos renováveis em substituição a fontes tradicionais de produção de energia. Mas vejam o próximo item:


143. Desenvolver o potencial hidrelétrico do país.

Certamente, dentre as fontes primárias de produção de energia, o uso do potencial hidrelétrico do país foi o que causou maiores danos ao meio ambiente. As gigantescas hidrelétricas como Itaipu, Sobradinho, Três Marias, Tucuruí, dentre tantas, causaram danos irreparáveis à Natureza. Além da imensa área alagada, que caracteriza esse tipo de empreendimento, há o bloqueio dos rios, interrompendo seu ciclo natural, com enormes perdas de mobilidade de espécies, muitas vezes até com sua extinção. O governo Lula deu prosseguimento a essa modalidade de exploração de energia e Dilma diz que fará o mesmo.


144. Ampliar a liderança mundial do Brasil na produção de energia limpa.

Depois da revelação de sua preferência pela energia hidrelétrica, Dilma se contradiz afirmando que o Brasil se tornará o líder mundial em energia limpa.


145. Expandir o etanol na matriz energética brasileira e ampliar a participação do combustível na matriz mundial.

Novamente a contradição: para se produzir etanol são necessárias imensas áreas de plantação de cana de açúcar, com trágicas consequências para o meio ambiente. Não há coerência entre tais propostas.


146. Incentivar a produção de biocombustíveis.

O que são os biocombustíveis senão resultado de monoculturas que exigem a ocupação de imensas áreas territoriais, geralmente confiscadas de ambientes naturais, como áreas de cerrado ou até de matas preservadas? Pois muitas regiões do país tiveram suas reservas naturais destruídas pela produção de matérias primas para o biocombustível, como é o caso de Mato Grosso.



MEIO AMBIENTE

147. Reduzir em 80% o desmatamento na Amazônia.

Isto significa que, mesmo tendo atingido a meta, 20% do desmatamento atual continuará devastando nossa Floresta Amazônica. Apenas estaremos postergando a tragédia final, que será o fim a Amazônia. Não existe nenhum estudo científico que afirme que esse nível de desmatamento seja tolerável pela floresta e impeça sua total destruição. O único nível de desmatamento possível para a Amazônia, a Mata Atlântica e outros biomas nacionais é DESMATAMENTO ZERO! Já temos áreas agricultáveis em quantidade suficiente para abastecer nossa população de alimentos por milhares de anos. O que é preciso é aumentar a produtividade por espaço físico, e isso a EMBRAPA já oferece com competência.


148. Ter tolerância zero com desmatamento em qualquer bioma.

Como assim: e o que foi dito na proposta anterior? Tolerância zero com 20% de desmatamento?


149. Incentivar o reflorestamento em áreas degradadas.

De que forma será esse incentivo: através de isenção de impostos? De perdão das multas pelo desmatamento já realizado? Quem fará esse reflorestamento? Como acreditar nessa proposta?


150. Antecipar o cumprimento da meta de reduzir as emissões dos gases do efeito estufa em 36% a 39% até 2020.

Mais uma vez, a hipocrisia: de onde tiraram nossos diplomatas esses números percentuais quando foram apresentados à comunidade internacional? É preciso se trabalhar em um projeto sério de planejamento para se saber como extrair o máximo de nossas áreas agricultáveis para poder prescindir de novos desmatamentos. Também é necessário se investir em novas fontes de energia não poluentes para se afirmar com algum nível de certeza em metas percentuais tão agressivas. Nosso atual modelo produtivo, que exporta matérias-primas sem valor agregado, em lugar de alta tecnologia com elevado valor agregado, não permite propostas tão corajosas e arrojadas. São apenas propostas eleitoreiras.


151. Dar prioridade à economia de baixo carbono, consolidando o modelo de energia renovável.

Mesmas considerações acima: propostas vãs, sem respaldo científico ou tecnológico.


152. Considerar critérios ambientais nas políticas industrial, fiscal e de crédito.

Esse deveria ser o primeiro item desta série, e deveria incluir as políticas agrícolas, que hoje privilegiam a agro-indústria, como se verá abaixo, maior responsável pelos desmatamentos no país.



REFORMA AGRÁRIA E AGRICULTURA

153. Reduzir as invasões no campo.

As invasões no campo são consequência de uma promessa nunca cumprida de fornecer terras para os trabalhadores rurais. Enquanto não houver uma reforma agrária séria e compromissada, não se acabará com as tensões no campo. Basta conhecer os conflitos fundiários no oeste baiano.


154. Não compactuar com invasões de prédios públicos e propriedades. Mas não reprimir manifestações de sem terra quando estiverem simplesmente fazendo reivindicações.

Esse é um compromisso irrelevante. É obrigação de todo governante proteger os prédios e propriedades públicas que estão sob sua guarda e responsabilidade.


155. Intensificar e aprimorar a reforma agrária para dar centralidade na estratégia de desenvolvimento sustentável, com a garantia do cumprimento integral da função social da propriedade.

A reforma agrária nunca saiu do papel; mesmo nos assentamentos realizados, sempre faltou assistência técnica e extensão rural aos novos trabalhadores. Sem orientação, a maioria acaba por abandonar suas terras e retornar às áreas urbanas, agravando as tensões sociais. Meia reforma agrária é como meia gravidez.


156. Ampliar o financiamento para o agronegócio e a agricultura familiar.

(grifo meu) Quando lidamos com o agronegício devemos recordar que o Brasil possui um rebanho de 200 milhões de cabeças de gado, uma área de plantio de soja e cana de açúcar maior do que a maioria dos países do mundo, e que ao exportarmos produtos agrícolas primários, assim como a exportação de minérios, estamos jogando fora nossas maiores riquezas naturais, pois para cada gado no pasto extensivo, centenas de árvores foram abatidas. Não é esse o caminho inteligente. Agora, falar de agricultura familiar no Brasil é brincadeira! As verbas são irrelevantes! Existem milhões de pequenos e micro-agricultores em nosso país; eles representam 95% dos homens do campo e só percebem 5% da renda das propriedades agrícolas nacionais. Muitos ainda são semi-escravos da indústria, produzindo sob contratos leoninos, que os impedem de participar da livre concorrência, um dos pilares do Capitalismo!


157. Assegurar crédito, assistência técnica e mercado aos pequenos produtores. Vai ampliar inclusive o programa de compra direta de alimentos do agricultor familiar, passando de 700 mil para 1,2 milhão de contemplados. Ao mesmo tempo, apoiar os grandes produtores, que contribuem decisivamente para o superávit comercial.

70% de aumento previsto. Quanto cresceu o agronegócio durante o governo Lula?


158. Incluir dois milhões de famílias de pequeno agricultores e assentados no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).

Novamente, números baseados em intenções de voto. Quanto representam esses números em esforço e em recursos a serem carreados para esse propósito? Como se chegou a esses números? As campanhas deveriam ter se baseado em apresentar e comprovar a viabilidade de tantas metas arrojadas...


159. Dar mais apoio científico e tecnológico a organismos como a Embrapa.

A Embrapa não precisa de apoio científico ou tecnológico. É uma das mais bem sucedidas empresas nacionais, mesmo sendo pública. Dela saem os melhores resultados em pesquisa pura e aplicada ao campo. O que é preciso é convencer os demais órgãos públicos, inclusive o Ministério da Agricultura a competência dessa empresa exemplar: não há necessidade de expandir as fronteiras agrícolas; apenas é preciso investir em aumento da produtividade. Não seria necessário abate de mais uma única árvore!



IRRIGAÇÃO

160. Fazer 54 obras para melhorar os indicadores de saúde das comunidades ribeirinhas do Norte.

Que obras são essas? Quanto custam? Para que servem? Onde se localizam? Que comunidades são essas? É o mesmo que dizer "construir mais 54 pontes nos rios do Norte"! Temos milhões de rios!


161. Construir sistemas de irrigação no Sul, no Sudeste e no Centro-Oeste.

Só faltaram o Norte e o Nordeste... que proposta mais vazia e desprovida de significado! É esta nossa Administradora que foi capaz, sozinha, de gerenciar o PAC e o PAC-2? Aliás, onde estão os PAC´s nessas propostas? PAC são Programas Ausentes de Crédito, um "monte" de obras desconexas que, para efeitos eleitoreiros foram agrupadas no mesmo "feixe". O que precisamos é de planejamento de longo prazo, projetos integrados que não consumam recursos desnecessários e sejam aprovados pela população.


162. Continuar a transposição das águas do Rio São Francisco.

Tragédia das tragédias: a Transposição do rio São Francisco é o Elefante Branco das obras de Luiz Inácio LULA da Silva. Um projeto dos tempos do Império que, ressuscitado, sequer foi atualizado com o acordo das populações ribeirinhas do São Francisco. Aprovado nas catacumbas do poder, foi implementado à força pelo Exército, desviando águas de um rio moribundo para abastecer reservatórios e bacias de outros estados, enquanto a população ribeirinha do Velho Chico padece da fome e da seca. Provem que uma única família do São Francisco receberá água dessa obra faraônica!



Ainda faltou o principal compromisso que deveria constar de todas as campanhas eleitorais dos candidatos: impedir, de todos os modos possíveis e negociáveis, o desvirtuamento de uma de nossas melhores legislações - o Código Florestal Brasileiro! Depois de gravemente ameaçado pelo NEO-RURALISTA Aldo Rebelo, nossa legislação florestal está ameaçada de extinção, assim como nossos rios e florestas! Tentar impedir essas mudanças é dever e obrigação de todo político e de todo brasileiro consciente. Perdoar as dívidas dos desmatadores, dos criminosos que quase acabaram com as mais promissoras áreas de cerrado e floresta subtropical é um crime maior do que daquele que o praticou.

domingo, 31 de outubro de 2010

Carta aberta à Presidente Dilma Rousseff

Sra. Presidente Dilma Rousseff,

Falo como quem não votou em seu nome, e nunca votaria em José Serra. Fui defensor de Marina Silva como uma alternativa de governo que nunca foi tentada neste país, mas que deveria ser considerada por quem ama a terra em que nasceu e acredita no ser humano como uma criatura possível no concerto geral deste universo atribulado por tanta miséria e desgoverno.

Até hoje a humanidade sempre procurou alternativas para conceder o poder e as riquezas para poucos em detrimento da maioria. À senhora que, como eu, lutou contra a ditadura militar, mesmo sabendo que na relação de forças não tínhamos a menor possibilidade de vitória, e que, por idealismo e convicção, mesmo assim perseverou na defesa de seus ideais, peço-lhe apenas um minuto de sua atenção, antes que sucumba de vez nos labirintos do poder.

Nas barganhas dos cargos e dos Ministérios, guarde uma vaga para o bom-senso, e destine, pela primeira vez na história, a Agricultura para os pequenos agricultores, esses que representam mais de 95% de todos os trabalhadores rurais desse país imenso. Não entregue o poder para os ruralistas, esses que querem apenas se enriquecer, produzindo soja, gado e cana de açúcar para abastecer os celeiros do mundo, deixando a mesa dos pobres vazia.

Reserve o Meio Ambiente para quem luta por preservar as belezas desse planeta, suas águas e as florestas, seus animais e as paisagens para que nossos filhos, nossos netos, seus netos, tenham algo para se maravilhar e viver. Deixe um pouco do que resta para as futuras gerações e não para aqueles que ambicionam os domínios intermináveis dos latifúndios vazios.

Leve consigo, para as outras pastas, a Educação, a Saúde, os Transportes, Minas e Energia, pessoas que sonham com um mundo melhor e menos consumista, onde todos (todos mesmo) possam ter suas vidas dignas e não consumidas no desperdício e no desprezo pelos pobres.

Senhora Presidente, seja, antes de tudo, humilde; visite todos os rincões desse país e não apenas aqueles que lhe deram os votos da vitória, mesmo que sejam tão vazios e distantes que apenas os indígenas os estejam habitando. Veja com seus olhos a imensidão de nossas florestas, de nossos rios, a riqueza que eles guardam para um futuro que só acontecerá se alguém cuidar para que isso aconteça. E apenas a senhora poderá fazê-lo.

Não espere que as alianças espúrias que fez lhe garantam a tal "governabilidade". Tenha a coragem e a ousadia de decidir pelas gentes de nossa Nação, a despeito dos partidos políticos, cada vez mais corruptos, cada vez mais distantes dos nossos anseios populares.

Senão, para que terá valido sua luta revolucionária? Lembre-se de seu idealismo como estudante, que enfrentou as armas dos exércitos, os porões da ditadura, apenas para viabilizar um mundo melhor, mais solidário, mais justo e honesto. Traga de volta seus sonhos estudantis, ainda não contaminados pelas ambições políticas, e pense em seu povo, pois foi este quem a elegeu com seus milhões de votos! Rompa essas alianças estúpidas e acredite em seu poder.

Senhora Dilma Rousseff, não repita a hipocrisia do passado! Leve consigo poucas propostas, mas apenas as efetivas, importantes de fato, que possam modificar para sempre a fisionomia deste imenso país, de recursos (quase) inesgotáveis. Não deixe que eles se acabem!

Ainda existem pessoas do bem, preocupadas e solidárias, aquelas que votaram em Marina Silva apenas pelo que ela representou para todos nós, uma via diferente, não baseada no Capitalismo Selvagem em que vivemos, mas na busca de alternativas Sustentáveis, que possam preservar a Vida, a Beleza e a Permanência do Homem sobre a Terra.

Este é o meu pedido sincero, senhora Presidente!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A escolha difícil

Conforme havíamos previsto em crônicas anteriores em meu blog "Boca Ferina", Dilma será, provavelmente, a nova inquilina do Palácio do Planalto. Embora não conte com nossa simpatia e apoio, a candidata do PT tem muito mais qualificações para assumir a Presidência da República do que o tucano Serra.

Isto porque Lula, que a apóia, representou, para o Povo Brasileiro, uma promissora redenção em suas políticas públicas que favoreceram a ascensão das minorias à condição de dignidade social, e à grande e empobrecida maioria, alguns degraus que a afastou temporariamente da pobreza e da fome. Assistencialismo e imediatismos à parte, essa "proteção" contra a miséria, vinda através do Bolsa Família, era uma necessidade imperativa, enquanto medidas mais efetivas e duradouras não pudessem vir a afeito.

As habilidosas e inteligentes negociações de Lula e de sua equipe de Diplomatas conseguiram evitar que a maior crise do Capitalismo desestruturasse todas as conquistas sociais obtidas nesses últimos 10 anos. Isso ocorreu porque nosso mercado externo passou pela maior guinada de sua História, reduzindo a importância de parceiros tradicionais, fortemente atrelados ao Euro e ao Dolar, e buscando a parceria de outros países emergentes, como a China e a Índia, além dos países africanos e do Oriente Médio.

Lula também acelerou o processo de demarcação das terras indígenas e dos quilombolas, e de assentamento de trabalhadores rurais, dando o primeiro passo para o resgate desssas populações, que foram as maiores vítimas do Colonialismo português, no pior genocídio que maculou a História do Brasil, de Portugal e de sua aliada, a Inglaterra.

No entanto, apesar de tantas conquistas sociais importantes, o governo Lula não conseguiu reverter o processo de destruição sistemática da Floresta Amazônica, deixando um vergonhoso rastro de devastação provocado pelas alianças espúrias do PT com a famigerada Bancada Ruralista, para quem só importa o enriquecimento fácil da exploração e da exportação de soja, da criação de gado bovino e dos subprodutos da cana de açúcar.

Marina Silva, nossa candidadta à Presidência, não conseguiu, contudo, conter a fúria destruidora do Latifúndio e das monoculturas, que destroçaram, desgraçadamente, grande parte do Cerrado do Mato Grosso, Goiás e Tocantins, e também extensas regiões da Floresta Amazônica nos estados do Pará, Rondônia e Acre.

Na visão Desenvolvimentista embasada pelo anacrônico e decadente Neo-Liberalismo, DIlma e Serra não se diferenciam; isso nos leva a crer que os próximos quatro anos, pelo menos, serão desastrosos para o Meio Ambiente, conduzindo-nos a uma situação crítica de sobrevivência de nossos principais biomas, os mais importantes do Planeta em extensão e biodiversidade. Principalmente para as bacias hidrográficas do Amazonas e do São Francisco, fontes de irrigação de uma gigantesca extensão territorial brasileira.

Será uma perda irreversível, dada a fragilidade dos solos amazônicos, e um grande risco para a sobrevivência da raça humana. Quem será o responsável por essa hecatombe: Dilma ou Serra? No próximo final de semana conheceremos o nosso algoz!

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